O Pensionato

 

Durante minha adolescência fui estudar em Recife e morei num pensionato de freiras.
O local funcionava num prédio antigo e ficava vizinho à uma igreja e um cemitério do séc. XVIII.
A construção, histórica, já tinha sido quartel, hospital, convento e colégio antes de se tornar pensionato.
Muitas histórias estranhas circulavam por ali, e algumas delas aconteceram enquanto eu morava lá.

Uma delas passo a narrar agora.

O prédio do pensionato era uma construção com mais de 40 quartos, salões enormes, corredores escuros, salinhas fechadas.
Um dos salões, por ser grande e estar sem uso, foi divido em vários quartos, separados por divisórias de madeira que não iam até o teto.
Às vezes todos os quartos estavam preenchidos por pensionistas, cada um com uma, outras vezes restavam alguns vazios durante alguns meses.

Nessa época de que vou falar, apenas uma pensionista morava em um dos quartos, e os restantes estavam todos vazios.
Todas as outras moças evitavam o local, considerado mal-assombrado, e se impressionavam com a coragem daquela que dormia sozinha ali. Ela alegava que gostava dali por conta do silêncio, porque podia estudar tranqüila. Um dia a moradora do salão teve um sonho estranho. Sonhou que estava em seu quarto quando uma mulher bateu à porta, se apresentou e pediu pra entrar.
Depois de dizer seu nome, ela contou que morava no último quarto, no fim do corredor do salão, e disse que estava sempre ali para ajudar se precisasse de alguma coisa. Depois saiu.
No dia seguinte, no café da manhã, a moradora, que tinha ficado com aquele sonho na cabeça, comentou o fato com a governanta do pensionato, que morava ali havia mais de 30 anos.

A governanta se mostrou muito estranha, incomodada com aquilo, mas não fez qualquer comentário.
Percebendo a reação dela, a moradora insistiu até que ela dissesse o que estava acontecendo.

A governanta, então, contou que no passado uma mulher com aquele mesmo nome e com as mesmas características tinha morrido no último quarto do salão, quando uma parte do teto, que era de telhas, caiu sobre sua cabeça.

 

Sêmele - Piauí

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